Friday, December 9, 2016

Antiga Rua da Aurora




A famosa rua da Aurora, atual Heráclito Vilar, demonstra um processo de transformação espacial e cultural, notadamente, observado no centro urbano de Ceará-Mirim. 

Em seu livro Ceará-Mirim: memória iconográfica, o autor Gibson Machado Alves, destaca a Antiga Rua da Aurora dos anos de 1930, 1940 e 1950 como o “ponto de encontro” e o “coração de Ceara-Mirim”, ou ainda, "o centro da vida da cidade". Ali se fixaram as famílias mais abastarda da região cearaminense, logo, trataram de instalar os chamados cafés Moderno com destaque para o café de Jorge Moura e o Central, além do cinema Rialto com exibições semanais.

 Além destes locais, bastantes frequentados por todos os segmentos sociais de Ceará-Mirim, havia a bodega de Chico Dantas, um comércio de produtos variados, onde era possível, como lembra  Gibson Machado, encontrar tudo o que era pretendido.

A rua da Aurora era um ponto privilegiado da cidade. Nela havia as manifestações carnavalescas. Ali habitavam os Barretos, os Sá, os Mouras, os Leopoldino, o médico e o dentista, como descreve Gibson Machado.
 
Além de abrigar enormes casarões, uma das grandes atrações da Antiga Rua da Aurora era, sem dúvida, o cinema mudo da época.

O Palácio Antunes





O Palácio Antunes foi construído pelo Coronel da Guarda Nacional, José Antunes de Oliveira, em 1888, Imponente construção de arquitetura neoclássica, encravada no centro de Ceará-Mirim, este prédio abrigou uma das famílias mais influentes da cidade, os Antunes, cujo patriarca era o já referido Cel. José Antunes. O Palácio, como ficou conhecido, foi um símbolo de requinte na cidade, nos fins do século XIX. Suas janelas foram as primeiras na cidade a possuírem vidros, item manufaturado, pouco acessível na época. 





No salão principal do Palácio aconteceram grandes saraus entre os poetas e jornalistas da região, tais como Madalena Antunes, filha do Cel. José Antunes; Juvenal Antunes, Adele de Oliveira, Dolores Cavalcanti, Etelwina Antunes e outros. O Palácio também presenciou cenas tristes, quando o Sr. Ruy Antunes Pereira, enfermo com lepra, suicidou-se, jogando-se da janela de seu quarto, no andar superior, no ano de 1950.  



Em 1935, o filho de Madalena Antunes, Ruy Antunes Pereira, comprou o solar ao seu tio, Juvenal Antunes, e deu de presente a seu filho, Ruy Antunes Pereira Junior, do qual também herdou o engenho Mucuripe. Entretanto, em 1974, quando assumiu a prefeitura da cidade, doou o solar para ser sede da prefeitura de Ceará-Mirim.



Madalena Antunes, desde jovem gostava de escrever e logo passou a colaborar num jornal de circulação local, em Ceará-Mirim, assinando-o com os pseudônimos de Corália Floresta, Hortênsia e Ildarisa Flores.
Madalena Antunes conviveu com intelectuais como Luis da Câmara Cascudo, Manoel Rodrigues de Melo, Esmeraldo Siqueira, Veríssimo de Melo, Nilo Pereira (seu sobrinho) e outros. Foi quando descobriu a fórmula “mágica” para editar e lançar o seu livro, até então, organizado em manuscritas folhas de papel almaço, publicando-o em 1958, com o título: "Outeiro: Memórias de uma Sinhá Moça", um livro de memórias, na qual relata a vida bucólica no engenho da família e seus anos de internato no Recife. 




O Mercado

Erguido durante o século XIX, o Mercado Público de Ceará-Mirim, provocou uma enorme euforia popular na época em que foi inaugurado, 1881. Esta euforia se deve em grande parte a transferência da feira, antes realizada na Rua Grande  e, posteriormente, deslocada para o Mercado atual. 

Segundo fontes históricas, o coronel Onofre José Soares, de posse de um contrato com o governo provincial, logrou o direito de construir e explorar por um período de 20 anos, o Mercado Público. Esta determinação causou grande resistência da população que não via com bons olhos a inovação pretendida. Porém, somente, após a Proclamação da República, em 1889, que a feira, de modo definitivo, foi transferida para o Mercado atual. 

O Mercado público de Ceará-Mirim foi erguido no centro da praça da cidade a mando do senhor de Engenho Cruzeiro, o Coronel Onofre José. Atualmente, o Mercado público mantém sua estrutura original, embora, ao longo dos anos, várias reformas tenham sido empreendidas para conservar sua condição física.
Além de ser um espaço movimentado do comércio da cidade, o Mercado Público é considerado um ponto de encontro que reúne diversas pessoas, sejam elas da própria cidade ou visitantes de outras localidades que se servem do espaço para degustar a gastronomia local dos restaurantes, bares e jogar conversa com os amigos.   

A Feira

A feira livre de Ceará-Mirim é o lugar de memória e de expressão dos valores e da cultura dos diferentes atores sociais que inscrevem a partir de suas práticas e experiências cotidianas uma identidade local.

Esta identidade local é manifesta segundo os hábitos e costumes que caracterizam a organização social e econômica da urbe. Eis que o primeiro aglomerado comercial, a feira livre, de Ceará-Mirim teve início na chamada Rua Grande em virtude da existência de comerciantes que ali se fixaram.

Desde então, o dia de feira passou a ser tão expressivo para a população de Ceará-Mirim que, praticamente, tornava-se uma obrigação frequentá-la. 

Naquele tempo, não havia um dia específico para a realização da feira livre, a qual poderia ser realizada em qualquer dia da semana, uma vez que, as usinas eram responsáveis por estabelecer a data, geralmente, definida conforme o pagamento dos trabalhadores.

Embora, nos primeiros tempos, não houvesse um dia fixo para a realização da feira livre de Ceará-Mirim, a população local entrava em clima de euforia quando havia. Era uma diversidade de barracas que vendiam os mais variados produtos: frutas, legumes, roupas, queijos de coalho e de manteiga, bolinhos, pamonha, cereais, verduras, utensílios artesanais, bebidas, carnes e etc.. Havia também repentistas que ecoavam seus versos improvisados na feira.

A feira livre era, portanto, a sensação que contagiava com alegria a vida do cearaminense. Até que esta alegria se transformou em rebeldia, quando, em 1889, após a construção do Mercado Público, a feira foi transferida, por intermédio de uma decisão municipal. Tal evento provocou grande insatisfação na população local.

Atualmente, a feira de Ceará-Mirim funciona aos sábados, sendo realizada ao lado do Mercado público, conservando diversos elementos da sua estrutura inicial.

A Serpente Gigante do Cemitério Santa Águeda



No tempo dos senhores de engenhos onde predominavam a escravidão, muitas crueldades, como tortura físicas, aconteciam no vale de Ceará-Mirim. Conta os antigos que um senhora de engenho era a mais cruel e desumana para com seus escravos, chegando ao ponto de até outros proprietários de engenhos e de terras se revoltarem. 

Mencionada senhora sempre tinha em seu porão escravos amontoados, prontos para a torturas. A lenda conta que um de seus hábitos mais macabros consistia em pregar uma escrava nas paredes, pela orelha ,e em seguida mandava uma ordem para fazer algo, de modo que ao sair, a escrava tinha sua orelha arrancada e pregada na parede. 



A senhora de engenho, segundo a lenda, foi assassinada por seu esposo, após relevar tantas torturas cometidas por sua mulher contra a criadagem. Entretanto, diante de seus pecados, a senhora não fora enterrada dentro da igreja, como se faziam com os féretros das famílias tradicionais, sendo sepultada no Cemitério Santa Águeda. Os deuses, então, a transformaram em um serpente gigante, como uma maldição. Assim, seu túmulo tem grandes rachadura e foi acorrentado e concretado para não ter o perigo da serpente escapar e ferir pessoas. 


O Causo de Emma Thompson 



Marcello Olympio de Oliveira Barroca, filho de Ceará-Mirim, nascido no dia 16 de janeiro de 1856, estudou na Inglaterra e lá conheceu a inglesa Emma Thompson, nascida em 30 de novembro de 1854. Emma casou-se com Marcello e veio morar no Brasil, precisamente na terra natal do marido, no Engenho Verde Nasce.

Em 1880, Emma fica grávida de uma menina e, no dia 07 de fevereiro de 1881, quando está para dar à luz de sua filha, o parto complica e ela vem a falecer.Marcello manda sepultá-la no ponto mais alto de uma colina na propriedade do engenho Verde Nasce, um lugar especial onde o jovem casal ia todas as tardes apreciar o pôr-do-sol que desaparecia à sombra do canavial. Tal atitude se deu porque a igreja não permitiu que sua esposa fosse sepultada no cemitério da cidade, uma vez que ela era de religião anglicana.Seu túmulo foi mandado construir com proteção de grade de ferro vindas da Inglaterra e sua lápide foi confeccionada em Mármore de Carrara e trazia inscrito: “Sacred to the memory Emma – the beloved wife – Marcello Barroca. Born November 30 th 1854. Died February 7 th 1881”.



Muito tempo depois, quando o Verde Nasce já não pertencia mais a família, começaram a surgiu histórias sobre as jóias que teriam sido enterradas com a jovem Emma e, também, começaram a surgir causos de assombrações nos quais a inglesa aparecia pedindo para que recuperassem aquele tesouro.

Ninguém sabe ao certo se a história procede ou se apenas são causos do imaginário popular. O certo é que o túmulo foi violado e, atualmente, restam os escombros do antigo jazigo. As grades de ferro e a lápide de mármore estão guardadas com os atuais proprietários do engenho.